domingo, 30 de maio de 2010

O DILEMA DA OPOSIÇÃO FRAGILIZADA E SEM DISCURSO.



Marcos Coimbra - Correio Braziliense - 30/05/2010
Foi nas oposições que os efeitos da manutenção da popularidade do governo em patamares tão altos foram mais profundos. Como ser contra um presidente que três, em cada quatro pessoas, consideram ótimo ou bom? Como fazer oposição a alguém aprovado por 85% dos eleitores?O tamanho da aprovação popular do governo Lula é impressionante, pelo que conhecemos em nossa curta história como democracia moderna. Pode ser que em outros países — como alguns de nossos vizinhos — números iguais aos seus não causem tanta impressão. Aqui, no entanto, deixam todos boquiabertos. Eles não chamam atenção apenas pela magnitude, mas, também, pela permanência em níveis elevados.

A rigor, não param de crescer desde quando Lula enfrentou seu inferno no segundo semestre de 2005, nas profundezas do mensalão. Subiram durante o processo eleitoral de 2006, o que foi considerado natural, pois decorria da superexposição trazida pela campanha, mas não cederam em 2007, mesmo sem a mídia excepcional. Do começo de 2008 em diante, o que era bom melhorou, e a popularidade do governo entrou em rota ascendente. Nela, prossegue atualmente. Ao contrário de seus antecessores, que terminaram pior (ou muito pior) do que quando começaram, parece que Lula vai continuar subindo até sua despedida em dezembro. Esses altos níveis de aprovação tornaram-se o mais importante elemento do jogo político brasileiro e produziram efeitos em todos os lados. Dentro da coalizão governista, acentuaram a característica centrípeta de nosso sistema político, aumentando a concentração do poder no seu núcleo. A candidatura de Dilma é a manifestação mais visível desse fenômeno. Nas relações internacionais, funcionaram como um endosso da liderança pessoal do presidente, fazendo com que fosse percebido, mundo afora, como uma unanimidade nacional. Seus interlocutores externos passaram a se relacionar com ele a partir dessa premissa. Mas foi nas oposições que os efeitos da manutenção da popularidade do governo em patamares tão altos foram mais profundos. Ela desnorteou os adversários, deixando-os sem discurso e sem capacidade de reação. Como ser contra um presidente que três, em cada quatro pessoas, consideram ótimo ou bom? Como fazer oposição a alguém aprovado por 85% dos eleitores? Com exceção de algumas lideranças (mais corajosas ou mais inconsequentes, conforme o ponto de vista), as bases dos partidos de oposição — seus líderes locais, vereadores e, especialmente, prefeitos —, bem como muitos deputados e até alguns senadores, preferiram não se desgastar com seus eleitores, evitando polêmicas e embates com o presidente. Com isso, só reforçaram a tendência ascendente de sua aprovação. Neste momento, quando entramos na reta final do processo sucessório, os impasses vividos pela oposição nos últimos anos estão se tornando mais agudos. Se foi difícil opor-se ao governo, como convencer os eleitores de que é preciso mudar? Se a grande maioria de seus parlamentares, prefeitos, governadores, fez questão de não radicalizar em um discurso oposicionista ao longo de todo o segundo mandato de Lula, seria agora que o assumiriam?

Veja-se o caso de Serra. Nos quatro anos em que conviveu com Lula como governador de São Paulo, sempre se apresentou como parceiro do governo federal, com desavenças apenas pontuais. Houve, até, quem dissesse que Lula ficaria tranquilo se fosse ele o vencedor este ano, tão boas eram suas relações e tão profundos seus laços de amizade. Quem quis se iludir chegou a pensar que, para Lula, perder para Serra não era perder. E o que vai acontecer na campanha este ano? Salvo o ex-governador, obrigado a desempenhar o indesejável papel de adversário de Lula, a maioria dos candidatos dos partidos de oposição vai querer tudo, menos arriscar-se à derrota, confrontando os sentimentos dos eleitores. Aqui ou ali, quem concorre ao Legislativo talvez fale claramente que é contra Lula e o que ele representa. Mas não esperemos o mesmo dos candidatos a cargos majoritários, aos governos estaduais e ao Senado. Quem precisa de maiorias não vai se indispor com elas.Enquanto aumentam as pressões, vindas dos núcleos de oposição ao governo na sociedade e na mídia, para que Serra diga, sem rodeios, o que pensa, ele reluta. Tem consciência de que, fazendo isso, suas chances na eleição, que já são pequenas, podem desaparecer

ENCONTRO DE PRESIDENTES OAB E MSG DE RASGA-SEDA NO TWITTER ME INSPIROU A TUITAR:


A propósito: a OAB Federal vai ou não julgar o processo oriundo das fraudes eleição 2009?

Sobre encontro OAB, aqui CE, fico imaginando tanta louvação, v.g., a um juiz que vai julgar processo do homenageador!
www.twitter.com/deodatoramalho

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A BRAVA SENADORA MARINA NÃO DEVERIA SE SUBMETER A ESSE CONSTRANGIMENTO.


Está na mídia: no lançamento da candidatura do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) a governador do Rio - coligação PV-PSDB-DEM-PPS... - no fim de semana, militantes apagaram de algumas faixas o nome da pré-candidata do seu partido a Presidência da República, senadora Marina Silva (PV-AC).No lançamento da candidatura na sede do América Futebol Clube, na Tijuca, a reportagem do G1, por exemplo, encontrou o nome de Marina coberto com fitas adesivas em pelo menos quatro faixas.
As desculpas dadas ao portal foram as mais esfarrapadas possíveis: primeiro que os militantes precisaram improvisar porque não sabiam que pela lei, as campanhas eleitorais só podem começar em 6 de julho. Mas, o ato nem era isso, era um lançamento de candidatura permitido pela legislação!Depois vieram com outra justificativa, a de que era necessário evitar faixas e cartazes com os nomes de candidatos à presidência como Marina e José Serra (PSDB-DEM-PPS) - este o candidato ao Planalto apoiado por Gabeira que, por sua vez é o candidato dos tucanos e cia ao governo do Rio.
Eis aí um político que fala contra os velhacos da política mas pratica tal vilania contra a candidata de seu partido. Ou ele vai alegar que não viu as faixas com o nome de Marina cobertos com fita adesiva? Começou mal. Blog do Zé
Leia também comentário Dilmista: http://dilma13.blogspot.com/2010/05/os-lapsos-seletivos-de-marina-silva.html#links
DILMA NA WEB: http://www.dilmanaweb.com.br/content/main/

domingo, 16 de maio de 2010

Presidente popular elege seu sucessor?

Emir Sader* - Sociólogo e cientista político brasileiro.

- Depende do tipo de governo que ele faça e do tipo de candidato que tenha -
Um esporte favorito da imprensa mercantil é tentar passar como realidade seu desejo de que Lula não seja capaz de transferir sua extraordinária popularidade a Dilma. Primeiro, diziam, Dilma não decolaria. Fracassaram: mais além das manipulações, há um evidente empate técnico nas pesquisas, sem que outro candidato cresça, impondo o caráter plebiscitário da eleição.
Em segundo, se trataria de buscar casos de dificuldade de transferência de votos por presidentes com popularidade. Nesse caso, a ginástica tem que ser bem maior. O Chile sempre foi a referência do Serra e dos tucanos, inclusive porque os governos da Concertação nunca saíram do modelo herdado de Pinochet, a tal ponto que a abertura escancarada da sua economia lhes impede de participar do Mercosul ou de outros projetos de integração regional, como o Banco do Sul, entre outros. Serra pregava o modelo de privatização chilena da Previdência e a precarização laboral advindas ambas do governo de Pinochet, como o modelo que pretende seguir. Esse modelo foi derrotado. A derrota é a de um modelo de referência tucana, incapaz de transferir sua popularidade a um péssimo candidato – o ex-presidente democrata cristão Eduardo Frei.
No caso da Colômbia, se trata do aliado privilegiado dos EUA na região, Alvaro Uribe, representante claro da extrema direita no continente, com dificuldade de eleger o seu sucessor, ex-ministro do governo, supostamente com popularidade, até que foi espetacularmente superado por um candidato opositor.
Uma das tantas viuvinhas do FHC na mídia mercantil faz essas comparações para tentar encher-se de esperança de que Lula não elege seu sucessor. Só que escolhe mal – como sempre – os critérios de comparação. Nenhum desses governantes se assemelha com as orientações do governo brasileiro. Bachelet e Uribe estão muito mais para FHC do que para Lula.
Teria que tomar como critério os governantes que privilegiam a integração regional e as políticas sociais. Nesse caso, a referência obrigatória não são Bachelet ou Uribe, mas Tabaré Vasquez, ex-presidente do Uruguai. Tabaré, como Lula, rompeu com a sequência de governos neoliberais no seu país, integrou o Uruguai nos processos de integração regional, privilegiou as políticas sociais e terminou seu mandato com um extraordinário apoio popular.
O que dizia a direita de lá? Que Tabaré não conseguiria eleger seu sucessor, ainda mais por que a Frente Ampla escolheu um ex-militante clandestino na luta contra a ditadura – um ex-Tupamaro, Pepe Mujica – como candidato à sua sucessão. A inovação radical de um personagem assim, se dizia, impediria dar continuidade ao governo de Tabaré. Por aqui, os corvos - aqueles mesmos que querem enterrar a “farsa” (sic) do Mercosul - torciam pelo retorno da direita.
Mujica ganhou espetacularmente, assumindo que tinha mudado as formas de luta, mas que nunca tinha mudado de campo, seguia fiel ao campo popular. Silêncio total da imprensa tucana nas lições a tirar, porque não favorecem as abordagens viciadas dos militantes dos partidos da imprensa (não são mais jornalistas, porque a partir do momento em que a executiva da Força Serra Presidente disse que são partidos de oposição, passaram todos a ser militantes desse partido e não mais jornalistas profissionais). Poderiam fazer comparações de Tabaré com Lula, de Mujica com Dilma, da direita derrotada na sua tentativa de retornar ao poder com o bloco tucano-demista. Mas, quando a realidade contradiz os desejos das viuvinhas, melhor recolher-se no silêncio contrito do desespero serrista.
Mas essa é a grande comparação. Tabaré elegeu Mujica, como Lula pode eleger Dilma. Depende do tipo de governo que foi feito. FHC não elegeu Serra, pelo governo que fez e pelo candidato que escolheu. Tabaré elegeu seu sucessor, pelo governo que fez e pelo candidato que foi escolhido pela Frente Ampla. Lula pode eleger seu sucessor, pelo governo que fez e pela candidata escolhida para sucedê-lo – Dilma.
Sei que é duro comparar a realidade com os sonhos desvairados de retorno tucano e das viuvinhas que telefonavam todo dia para o Planalto para falar com o presidente. Mas a realidade é implacável com as avaliações equivocadas. Deveriam, os corvos, tirar lições dos seus desvairados projetos de derrubar Lula em 2005, para que não recebam a realidade de volta como bumerangue a chocar contra suas cabeças deformadas pelas lentes elitistas com que tentam enxergar o mundo.

* Graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em filosofia política e doutor em ciência política por essa mesma instituição. Foi professor de Filosofia e Ciência Política da USP. Foi também pesquisador do Centro de Estudos Sócio Econômicos da Universidade do Chile e professor de Política na Unicamp. Atualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo e dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde é professor de sociologia. É autor de "A Vingança da História", entre outros livros.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br

domingo, 9 de maio de 2010

TAÍ A PRINCIPAL RAZÃO DO SURGIMENTO DO POLÍTICO FICHA SUJA. A COMPRA DO MANDATO.


(Foto da matéria: Grupo de deputados estaduais, na Assembleia, discutindo suas condições para a disputa eleitoral deste ano - JULIANA VASQUEZ, DN - 9/5/2010).
COMPRA DO MANDATO

Candidatos discutem sempre o preço do voto.
Candidatos mais abonados pagam sem pedir descontos como dizem os que alegam ter pouco dinheiro.
O custo da campanha eleitoral, hoje, é a maior preocupação de todos quantos pretendem disputar vagas nas casas legislativas. Os deputados, estaduais e federais, estão convencidos de que a eleição no campo majoritário, sobretudo quanto à de governador, o quadro está praticamente definido, posto que, mesmo que surjam nomes de oposição a Cid Gomes (PSB), em situação normal, não há mais tempo de se reunir os elementos indispensáveis a uma estrutura necessária a qualquer postulante que, de fato, venha a ser competitivo.
Os legisladores, da esfera estadual e federal, com raras exceções, estão apavorados com o quadro presente. Os estaduais bem mais que os federais, invertendo uma realidade dominante em todos os últimos processos eleitorais no Ceará. O preço do voto, e é com profunda tristeza que utilizamos a expressão preço, ao invés de a conquista do voto, mas é a única que podemos citar, quando discorremos sobre disputa por vagas na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados, nas eleições estaduais, posto ser esta a linguagem utilizada por todo e qualquer candidato a cargo proporcional.
Os políticos não dizem que estão conquistando esse ou aquele grupo de eleitores, aqui, ali ou acolá. O que eles afirmam sempre é que negociam com liderança tal e qual que lhe poderá dar tantos e quantos votos, e que mensalmente têm que lhes pagar tais valores, até a realização do pleito, isto sem falar nos gastos que vários já fizeram nas eleições municipais, financiando candidaturas de prefeitos e vereadores para a garantia da preferência de apoio neste ano.
Hoje, no dizer de alguns, reservadamente, o custo está muito elevado. Até dois meses atrás era possível acertar a compra de colégios eleitorais na base de R$ 50 por voto. Hoje, com determinados candidatos negociando "sem pedir desconto", não só apenas ficou escassa a mercadoria como o seu preço dobrou. E é porque todos dizem que não compram votos e que não têm dinheiro para gastar em campanha. Estão sofismando. Alguns podem até gastar bem menos que outros, mas todos dançam a mesma música, sob pena de ficarem fora da festa, ou seja, não conseguirem o mandato almejado. Os recursos, porém, podem ser próprios, de terceiros ou públicos, aqueles das tais emendas parlamentares, sobretudo na esfera federal, razão da alegria incontida de muitos prefeitos.
Se a eleição de um deputado pode chegar a cifras que vão até R$ 5 milhões para um estadual que esteja ingressando na política agora, albergado por legendas partidárias maiores e a de um deputado federal aproximadamente R$ 8 milhões, quanto vai custar a campanha de um candidato a governador cuja estrutura é muito mais expressiva? E a de presidente da República? Na revista Veja que circulou semana passada, nas páginas amarelas, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra afirmou que a tesouraria do seu partido estava orçando as despesas da candidata Dilma Rousseff à sucessão do presidente Lula, entre R$ 150 e R$ 200 milhões. São números realmente estratosféricos, embora ainda irreais, pois sempre há despesas não contabilizadas para enganar a Justiça Eleitoral e resguardar doadores anônimos. Em 2006, pelos números oficiais, os dois principais candidatos ao Governo do Estado do Ceará, Cid Ferreira Gomes, o eleito, e Lúcio Alcântara, o segundo colocado, gastaram próximo de R$ 29 milhões, Cid pouco mais de R$ 11 milhões e Lúcio perto de R$ 18 milhões.
Compromissos
Este quadro real não é o ideal para o exercício da boa democracia e especialmente para o sistema representativo hoje vigente. Se o elevado custo da campanha afasta muitos brasileiros de pleitear espaços no mundo legislativo, mais evidente está que os eleitos, gastando as fortunas exigidas pela campanha eleitoral, lá estão ou chegarão sem os sentimentos e compromissos que deveriam nortear todos quantos se propõem a bem exercer um mandato eletivo. É tempo de mudar tudo isso.
EDISON SILVA
EDITOR DE POLÍTICA - Diário do Nordeste
VAMOS NÓS: O artigo acima é do jornalista Edison Silva, do Sistema Verdes Mares, publicado hoje no jornal Diário do Nordeste. Ele desnuda a tragédia em que se transformaram as eleições brasileiras. É daí que surgem os fichas sujas. Os eleitores, assim, fabricam os fichas sujas. Passadas as eleições o discurso é o de que fulano é bom de voto; beltrano é ruim de voto. A representação popular, assim, fica cada vez mais ilegítima.